quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Em Março desse ano

Quando a Ana e a Verônica me perguntaram por que eu tinha escolhido fazer parte daquele núcleo de teatro de rua, eu logo mandei um: “É que uma das minhas melhores experiências com teatro foi num espaço não convencional, apesar de não ter sido exatamente na rua”. Eu não tinha mentido. Eu fiz mesmo o Ubu-Rei no prédio da faculdade, em cima de uma estrutura circular e , enfim...Mas eu ainda poderia ter tirado do bolso alguns argumentos mais sérios caso as duas não fossem bastante diretas e não tivessem passado pra próxima pergunta. A verdade é que, eu queria era estudar teatro e ainda mais naquela escola simpática que a ELT parecia ser, podia ser na rua também, parecia uma boa idéia. No lugar, um prédio de formato estranho, as pessoas conversavam, entrava luz do sol, havia cartazes nos murais e corrimãos vermelhos. Isso foi numa entrevista de seleção que aconteceu há uns oito meses já. Credo, oito.

No segundo dia, apareceu um cara magricelo que cantava, dançava e rodopiava atrás de um acordeon. O povo todo suava frio se embananando com os exercícios de ritmo. Respira fundo e começa de novo. Eu sempre tô aprendendo o quanto posso ser descordenada. Foi quando a gente aprendeu com o Cris a música do tropeiro:

Você me chamou tropeiro
Eu não sou tropeiro não
Sou arrieiro da tropa, Marcolino
O tropeiro é meu patrão

E foi tão bonito, apesar da tensão, e a Ana gritava: “Gente, se diverte!”.
Vai lá, alma de protagonista. Engana, finge que tá tudo certo, só no “carão”.
No terceiro e último dia eu me perguntava se ter errado todos aqueles passo em oito, oito, quatro, quatro, dois, dois, seriam definitivos na minha desclassificação. Como é engraçado lembrar do primeiro “Quatro pra nada...” da Verônica.

Enfim, no começo éramos vinte e cinco e agora somos uns...sete? É difícil fazer um histórico: foram seminários, pequenos debates, exercícios na praça, muito exercício do bastão, aquecimentos infinitos, brigas e reuniões e reuniões...A seleção natural rolando e muitos indo embora aos poucos. O que eu acho bem normal e até melhor, apesar das saudades de alguns.

Na época da Mostra da Escola, escolhemos dois trechos das peças que a gente tava querendo montar, o “Roda Viva” e o “Muito barulho por nada”. E foi uma coisa doida por que todo dia eu pegava o metrô e trem pensando nas coisas que tinham sido ditas sobre ser dono do próprio processo e sobre como vira e mexe eu me pegava me acomodando naquela posição de aluna passiva venham-me-ensinar. Eu já tinha pensado antes nessas coisas de que pesquisa é sempre pesquisa sua, cotidiana, e que escola pode ser um espaço legal pra isso se desenvolver ( e pode ser também a reprodução de tudo que todo mundo adora meter pau na escola, na época em que era obrigado a aprender Matemática) mas eu acho que só estou tentando fazer isso agora e lá. Essa é a dificuldade mais bacana que pra mim o “livre” da ELT significa.

No nosso ensaio geral do “Muito barulho”, pouco antes de chamarmos o pessoal da escola pra olhar, uma moça algo maluca e dois meninos pararam por um tempão pra assistir. Eles riam muito...e quando acabou perguntaram quando ia ter mais. Saímos de frente da igreja, onde era nosso palco, e os meninos subiram na escadaria e ficaram imitaram os passos pesados da Graziela, que fazia o vilão da estória.

Tinha sido difícil se concentrar sem foco de luz, sem black-out, mas o céu em cima da gente e aqueles meninos...Tá, tô começando a entender esse negócio, não é só ficar no sol e pegar uma cor.